Quando fui apresentada ao Personal Statement, fiquei imediatamente intimidada com a seriedade da redação. Tendo escrito mais de 20 essays para universidades americanas, onde detalhes da minha vida pessoal foram expostos para completos estranhos, estranhos estes que agora eram responsáveis pelo meu futuro, me fez esperar que todas as universidades estivessem preocupadas com quem eu era como um todo. Por esse motivo, fiquei confusa e principalmente com medo de que o Reino Unido não parecia valorizar quem eu era de maneira geral. Se eles não se importavam com minha personalidade, eles se importavam com quem então?
O primeiro desafio partiu da falta de conteúdo. Eu estava acostumada a analisar a minha vida pelas lentes americanas, onde cuidadosamente selecionava histórias pessoais que melhor exibiam as minhas virtudes. Em contraste, dessa vez eu tinha que usar um filtro acadêmico na minha escrita, onde fui forçada a não apenas reanalisar minha vida, mas começar a ponderar qualquer coisa ao meu redor que me desse algum insight sobre medicina. Comecei com livros que havia lido ao longo de minha carreira no ensino médio, depois passei a discutir pesquisas que descobri ao longo de muitos anos de tarefas de casa de biologia. De repente, tive uma onda de inspiração e cada palestra assistida da Ted Talks com temas científicos tornou-se relevante, e cada pensamento que eu tinha sobre uma teoria existente parecia se encaixar perfeitamente no essay.
Então veio o segundo desafio: muito conteúdo. Durante meu brainstorm, parecia que eu tinha todos esses pensamentos, talvez ideias originais e ambições escondidas dentro de mim, como se estivessem esperando o momento certo para aparecer. Não me interpretem mal, eu não elaborei um projeto de pesquisa ganhador do Prêmio Nobel no meu Personal Statement. Minhas idéias eram meras aplicações da biologia básica em situações incomuns. Por exemplo, mencionei um livro que li sobre um homem que sofria de síndrome de lock-in (ou seja, paralisia completa de todos os músculos voluntários, exceto o músculo que controla os movimentos dos olhos) e como essa nova linha de pesquisa que está sendo desenvolvida na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) poderia ser uma forma viável de tratá-la. Embora não seja revolucionário, foi uma das primeiras vezes em toda a minha carreira acadêmica em que realmente comecei a conectar peças de informação e a tentar tirar conclusões com elas. E, ao meu ver, foi uma das primeiras vezes que me senti uma cientista.
Por fim, o último desafio: aceitar a ideia de que eu gostei de escrever o Personal Statement. Sempre valorizei o processo de inscrição americano, acreditando que me analisar por completo significava que a faculdade realmente valorizava quem eu sou. Mas assim que as decisões começaram a serem tomadas e uma boa parte das rejeições me deixaram desapontada, percebi uma coisa: a rejeição americana parecia pessoal porque eu dei meu todo coração naqueles essays, apenas para descobrir que minha vulnerabilidade não foi avaliada, ou pelo menos não da maneira que eu esperava que fosse. Enquanto isso, a rejeição britânica parecia uma mera conversa entre estudiosos que discordavam de uma teoria científica.
Então, para responder à minha pergunta: o Reino Unido se preocupa com meu lado acadêmico, a cientista/médica que existe dentro de mim. E como, agora, optei por frequentar uma universidade britânica, espero que continuem a valorizar esta parte de mim que aprendi a amar tanto.
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